Sozinho
no apartamento deformado de ausências
me vejo absurdo diante do absurdo
como quem, a convite da loucura,
se veste com o rigor que a causa exige
Mas talvez eu não esteja só
talvez mais que livros
eletrodomésticos restos de bebida
que desabitam este incômodo
convivam comigo pesadelos
que não são só meus,
e sonhos
igualmente não meus somente
Além de mim
existem os homens
e o interminável embate
entre a esperança e a indiferença.
Fazendo história que também é minha,
e que está presente
num livro de poemas
e no alicerce deste prédio de apartamentos.
Não, não estou só.
neste mesmo instante,
esta mesma solidão minha
está sendo vivida por milhões:
nas linhas de montagem
nos hotéis baratos
nos acampamentos de beira de estrada
nos esgotos do capitalismo.
Esta mesma solidão
pequeno-burguesa
funcionária pública
espremida entre contas a pagar
e salário vencido
está sendo vivida entre milhões.
A solidão concreta dos abismos
a insofismável solidão do abandono
que não freqüenta as sessões solenes de posse
que não está entre os verbetes das enciclopédias
ou na contabilidade dos balanços anuais ...
Mas que está no poema
pois embora frágil este coração fraturado
não estou sozinho diante dos homens
não estou ausente da humanidade que me gera.
Por: Renato Casimiro
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Flávia Dellamura
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O ódio é meu único vício
O desprezo é minha única virtude
O nada, meu único ideal
A.D.C