Limitação, a essência da moralidade
Segundo os chineses, a essência da moralidade é a limitação (I Ching - O Livro das Mutações, Hexagrama Nº 60). Condições ilimitadas não são próprias à natureza humana; caso estivessem disponíveis, o ser humano se perderia, se dissolveria no indeterminado sem conseguir realizar-se em coisa alguma. Qualquer empreendimento que assumamos terá a sua exclusividade e exigirá de nós a devida dedicação, o devido investimento: tudo na vida tem o seu preço. Assim como a natureza fixa limites às estações do ano, assim também o homem, harmonizando-se com o seu ritmo, deve agir com senso de economia e justiça, limitando seus gastos, evitando assim dissabores e prejuízos para si mesmo e para o seu próximo. Limitações são penosas mas eficazes se soubermos usá-las construtivamente. Cada um deve, pois, conscientemente, reconhecer voluntária e espontaneamente o seu dever. Contudo devemos estabelecer limites até mesmo para as limitações pois, se impusermos uma restrição muito amarga a nossa própria natureza, isto nos será prejudicial. Da mesma forma, se impusermos limites muitos severos aos outros, eles se rebelarão. O segredo está em se procurar a melhor situação de equilíbrio.
Ora, nossas preferências nos limitam; nossas escolhas nos limitam; portanto, de certa forma, também moldam a nossa moralidade, evidentemente. A moralidade é relativa e depende do contexto de época, lugar, condições socio-econômicas, etc. Não se deve, portanto, confundir moralidade com moralismo. Moralismo é afetação, é a falsa moralidade daqueles que alardeiam possuir limites, os quais eles próprios não respeitam, e tampouco têm a intenção de fazê-lo. Isto é bem diferente. A moralidade, por outro lado, embora relativa, é sempre necessária, pelas razões já apresentadas: economia e justiça, para si e para os outros. Já o moralismo, não; este deve ser evitado, sob pena de transformarmos nossas vidas numa grande maçada. Já foi dito que o Reino dos Céus está dentro de cada um. Sim, pode ser; mas também a possibilidade de cada um criar o seu próprio inferno está igualmente presente. Reflitamos sobre isso.
"A moralidade é simplesmente a atitude que adotamos com as pessoas de quem não gostamos.” Oscar Wilde, em “O Marido Ideal”.
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"In a time of universal deceit, telling the truth is a revolutionary act." George Orwell
Eustáquio Maia