Fabrício de Lima

Idade: 33 Registrado: 28/09/09 Mensagens: 37
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161.
Nada me pesa tanto no desgosto como as palavras sociais de moral. Já a
palavra "dever" é para mim desagradável como um intruso. Mas os termos "dever
cívico", "solidariedade", "humanitarismo", e outros da mesma estirpe, repugnam-me
como porcarias que despejassem sobre mim de janelas. Sinto-me ofendido com a
suposição, que alguém porventura faça, de que essas expressões têm que ver
comigo, de que lhes encontro, não só uma valia, mas sequer um sentido.
Vi há pouco, em uma montra de loja de brinquedos, umas coisas que
exactamente me lembraram o que essas expressões são. Vi, em pratos fingidos,
manjares fingidos para mesas de bonecas. Ao homem que existe, sensual, egoísta,
vaidoso, amigo dos outros porque tem o dom da fala, inimigo dos outros porque tem
o dom da vida, a esse homem que há que oferecer com que brinque às bonecas
com palavras vazias de som e tom?
O governo assenta em duas coisas: refrear e enganar. O mal desses termos
lantejoulados é que nem refreiam nem enganam. Embebedam, quando muito, e isso
é outra coisa. |
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