o segredo está em ouvir o som do...
instante?, do presságio advindo dos temores que ansiamos?, da natureza indiferente, descalça e nua perante um povo faminto e sem entusiasmo? o que nos falta não seria o pensamento, em lugar do tempo de pensar? o que nos cala não seria a fraqueza dos pulmões, frente o rochedo ensimesmado em suas idéias que pulsam sobre nossos ombros?
a amargura do dia a dia? sim, insuportável. feito o momento de inefável perda de nossos receios, de nossas certezas, de nossas personas perdidas em pérfidas e perenes partidas de trens rumo a destinos (i)manifestos. o atropelo dos dias é um apelo aos frios ideais que carregamos, sem um gosto doce a inundar o paladar de nossas idiossincrasias. aos poços de solidão e suas águas turvas, deixemo-los repousar sob o sol das mentiras imprecisas, cavando nossos próprios poços em solos mais sinceros com o ardor de nossas conquistas desejadas.
em nós, refúgios apenas servem-nos para que nos escondamos de nós mesmos, pois dos outros não podemos dar-nos a certeza do estar-se oculto, sendo um mundo próprio entre muros que facilmente se demolem com o sopro da agonia. no início, a partida nos parece sonho; ao final, torna-se passado tão febril e descontente que nos faz perguntar às nossas mentes o porquê de termos dado o primeiro passo, o primeiro ímpeto para a frente.
as alturas têm ar puro, mas uma atmosfera rarefeita, destarte sua condição de seletividade: quem possui pulmões nobres, que se estabeleça! ouçamos nossos passos, sem dúvida. todavia prestemos atenção ao eco que deles advêm: são a tradução do que pisamos, de onde vamos, do que seremos. e a poeira, levantada pela sola de nossos pés descalços será, tão-somente a intriga que a existência, esta matilha de furiosas bestas absurdas em nosso encalço, mostra-se a nós: um gesto de ironia, feito tantas que existem pelos cantos dos passados, presentes e futuros. ah, esta multiplicidade do real! esta autenticidade magistral que nos orienta e nos transforma em andarilhos entre mundos quixotescos!
busquemos o silêncio? talvez. mas apenas para ouvirmos nossas próprias orientações sobre o que dizer quando o vento sussurrar sentidos mentirosos em nossos ouvidos vagos. o sinal de esperança, ao longe, chega assim como um trem desgovernado. este esvaziar-se-á. de seus vagões pessoas perdidas com passos pesados seguirão os silvos e os assomos que porventura chegar-lhes-ão. sensação de vazio?
sim, eis uma grande possibilidade. o sopro de liberdade voltará assim que o segredo for descoberto. o segredo de ouvir o som do contexto de nossos próprios erros ecoando pelos erros alheios deste vasto, tão vasto planeta pobre e impertinente.
