Existir dói por convenção
Na irrazão de que a vida reviva
Sempre mais, mas para nada
Sentenciado à esperança perpétua
Que rasga-se pelo caminho do vácuo
Até a vertigem de alcançar a meta
Cem passos além da exaustão
Ofegante na sina de quem foge
Do desatino de quem nasce
Onde todo triunfo transfoge e dói
Todo o nada do passado
Despeja vazio no presente
Despeja todo o presente
No porvir deste momento
Todo passado pesa agora
E quem pensa-se passado
Pressente inda mais amargor
Bipartido em meus pensamentos
E sonhando-me livre em querer
Escolher, retroagir, agir e fitar
Mas contido no nada do imedito
Vivendo num fato sem escolha
Daqui invejo quem desiste
[e insiste
Em emudecer com algo por dizer
Nem pensar pensar sem agir
Esquecendo que sonha
O sonho de desaparecer
A cada segundo menos vivo
[mais ninguém
Nem feliz ou triste, nada convém
Nem esperar a sorte
Nem esperar a morte
Nem sangrar de saber
Nem sofrer para esquecer
A morte não será o fim
Viver nunca foi um início
Somente a sensação triste
De dar por si com um rosto
E a ilusão de que sou algo
[mais que um fato
Com necessidade de viver
E a nescidade de quem vive |