Consciente de mim
Penso minha liberdade
Onde hei de encontrá-la
Na rigidez desta máquina?
Indago sou livre
Mas livre de quê?
Talvez de algum erro
Talvez de algum cárcere
Talvez de algum grilhão
Talvez de alguma certeza
Mas onde adivinho liberdade
Sempre habita uma sombra
Precede-me em tudo
Este negro fantasma
Me envolve e me permeia
Abraça minhas entranhas
Confunde minha vontade
Sussurrando em meus ouvidos
A mentira duma cantiga de liberdade
Fala com minha boca
Ouve com meus ouvidos
Deseja com minha vontade
Pensa com meus pensamentos
É ela quem sonha os meus sonhos
Onde houver a luz da vida
Haverá sempre sua sombra
Ocultamente ardilosa e persuasiva
Se insinua em meus pensamentos
E segreda à minha consciência
Sua surda exigência
Toda a minha vida
É máscara desta sombra
É superfície desta sombra
Tirana oculta e envolvente
Que doma meu pensamento
Subjuga meus anseios
Encarna minha vontade
Conquista meu juízo
E me instila seu anelo
Liberdade – ó quimera!
Ilusão benigna que consola
Esta pobre criatura articulada
Títere nas mãos desta sombra
Puxando cordéis invisíveis
Na grande comédia de nossas vidas |