Tudo estava morto
E num arranjo da poeira do nada
Aparece luz a novos desgraçados
Quem vê nisso alguma sanidade?
Neste ato a vida se manifesta
Neste ato o ser se detesta
E inveja tudo que inda dorme
No sonho da noite eterna
Num canto esquecido
De algum astro mofado
A desilusão está à espera
À espreita de quem acorda
Na sina do nada em cada fato
Da ignorância predestinada
Da existência quantificada
Chances disso, dores daquilo
Haja esperança para suportar
O tédio desta despedida
Crenças perdidas
Erros aprendidos
Relação de desistir
Ou esperar hora certa
Uma fórmula química
Para quem luta
Uma desculpa
Para quem perde
Nem sempre se acerta
A simetria da equação
Nem sempre se aceita
A desculpa da física
Mas nada pode parar
Até o lixo auto-imune
Depois da quarentena
Tem de cooperar
Doses sistemáticas
Para miséria endógena
Serenidade intravenosa
Para crise existencial
Soro e água santa
Para lavagem cerebral
Manutenção antientrópica
Para heteropatia crônica
Um relatório preciso
Da espécie mutacional:
Mania de misantropia
Imprecisão reacional
Alocromia intelectual
Disfunção direcional
Alofasia intencional
Indiferença emocional
Rejeição sócio-colateral
Meus cacos
Não formam um corpo
Mas que adianta falar...
Humanidade reincidente
Exige remoção definitiva
Extirpação do supérfluo
Instalação do robótico
Reciclável e não-tóxico
Amor ao próximo
Esqueça a hemorragia
Mas esconda o sangue
Sorria e finja o resto
[está morto
Como esperado
Para que soubesse
A punição de quem sonha
Um passo além do permitido
Aos infantes convocados |