Curem estes átomos
Estão encolerizados
Num suspiro ensandecido
Quiseram dominar
Toda a realidade!
Quiseram ver tudo espelhá-los
E o mundo prestar-lhe reverências
Numa loucura de grandeza
Ao nada pediram satisfação
Do ser exigiram explicação
E no vazio enxertaram sua razão
Exterminem esta insolência
Que se impõe ao mundo
Como quem dá as cartas
Blefa no jogo e acusa o acaso
Dêem um fim a esta maldição
Que se propaga como a luz
No vácuo de sua essência
Quando diz, insatisfeita,
Quero mais, quero explodir
Minha virulência, criar a essência
E tornar-me uma existência
Elevada acima de si mesma
Desmantelem os processos
Dos átomos acometidos
De tamanha desgraça!
Com um berro dissonante
Disromperam a serenidade
Do que agora é uma máquina
Que mastiga o ser e se faz crescer
E se quer para sempre e sempre maior
O seu poder de impetuosidade insana
De regrar tudo que poderá suceder
Vomitando ordens de seu palacete
Em seu trono celestial eterno
Encravado no centro de tudo
Como a única pedra preciosa
Em meio ao pó do nada
Esta tirania foi instaurada
No momento em que o ser
Olhou para si próprio e disse:
Eu sou tudo, eu sou a vida
A medida de todas as coisas
Minha vontade seja louvada!
Pois alguém socorra!
E desfaça essa mentira
E exorcize essa maldição
Do último andar até o chão! |