Dada a descrença em Deus, precisamos admitir suas várias conseqüências. Precisamos, por exemplo, aniquilar todos os valores fundamentais que foram justificados pela crença que, agora, é inexistente. Com a morte de Deus, a vida fica suspensa no nada, e esta é uma visão realmente vertiginosa para quem estava nas sublimes alturas ideais e agora contempla o infinito abismo vazio do desespero sem referencial. Entretanto, a vida exige de nós um posicionamento, a própria vida é um posicionamento. Estar vivo e querer continuar vivo é um preconceito instintivo, mas nem por isso deixa de ser uma valoração. Desta raiz fundamental inerente à nossa própria condição de existência é que se deduz, normalmente, os valores que guiarão a ação humana, quando sem deus – e certamente não como uma valoração deliberada e livre, mas como um preconceito instintivo, como a própria sombra valorativa do homem. |