[Paraíso Niilista] Ø [reflexões] Ø [afirmação, negação, incerteza, nada] |
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Certeza – afirmação – incerteza – ø – incerteza – negação – certeza. Na região dos pólos há algo fixo intelectualmente a respeito duma coisa qualquer. No caso de quem costuma pensar, pendendo para uma, para outra, para nenhuma. Mas vamos jogar pedras contra fantasmas metafísicos. De um lado o velho e monótono conceito de uma realidade absoluta, do outro o ceticismo e a completa negação de qualquer possibilidade de conhecimento. O movimento e o contramovimento. Uma picuinha de nossa espécie, uma parte construindo castelos, outra parte os demolindo, e a maioria só empilhando ou derrubando tijolos sem saber muito bem por que está fazendo isso. Os pedreiros são os primeiros, com a certeza de uma realidade objetiva (ou absoluta, mesmo que mutável) que pode ser inferida vagamente, fundamentando-se no fato de que as conclusões inferidas pela experimentação funcionam – e por isso são chamadas de verdadeiras. O que é um erro, obviamente, a não ser que adotemos uma noção pragmática da verdade, que tem muito mais relação com nosso bem-estar biológico e necessidade de certezas do que com a preocupação com o conceito de verdade propriamente – investimento em técnica, não penso que é algo muito além disso o resultado, que é a essência da coisa toda. Não que sejam inúteis, mas elas simplesmente não importam nesta questão. Uma filosofia inspirada pela necessidade – nada de novo. Então vem outrem e diz: isso tudo não existe! A negação de uma verdade, de uma realidade absoluta, de tudo em que se acredita, se cultiva e se pensa existir tem sua nobreza, por assim dizer, no seu caráter, digamos, puro; por não estarem ganhando nada com isso, por não serem pragmáticos, por derrubarem sem a intenção de construir algo sobre as ruínas, mas pela própria honestidade. A negação de nossa capacidade de apreender tudo e a rejeição de tudo que foi(?) apreendido e de qualquer coisa a ser apreendida. Mas qualquer negação não é menos quimérica que uma afirmação. A própria incerteza, quando se afirma, se contradiz – que surpresa ser igualmente insustentável! Senão pela necessidade, é claro – mas é falsa! Tudo é falso! A necessidade só parece existir, mas se tem certeza de que é somente a sombra de um fantasma imaginado durante uma ideação materialista de um fraco degenerado que, desesperado, acreditou nos sentidos. No fundo, não ultrapassa um sistema moral adaptado para abstêmios pessimistas ulcerados que vivem vomitando o quanto devemos odiar tudo que existe apenas porque um dia se achou que existia. Uma espécie de vingança, talvez um ressentimento, uma frustração advinda de uma impotência óbvia e incontornável. Basicamente, sepultam o mundo e passam a vida toda como se estivessem lamentando pelo defunto que morreu jovem demais e por tudo que poderia ser – como almejam que fosse, mas que nunca poderia ser, de fato, naturalmente, o sabem e odeiam isso. O meio-termo parece o mais coerente (e daí? somos humanos...), mas menos promissor por seu efeito paralisante. Mas ninguém está discutindo meios de se tornar o funcionário do mês. É uma incerteza, obviamente, pois uma indiferença completa só vamos encontrar nas prateleiras daquelas carcaças com uma ficha amarrada no dedão. Mas é uma indiferença que não remói, passiva, calada, inútil, morrediça. Tendo-se como vizinhos dois abismos idênticos, seria estúpida uma predileção. Não sei se nada sei – talvez saiba sem sabê-lo. Talvez o que as coisas parecem ser ou só o que pareço entender. Talvez o que vejo, talvez o que penso, talvez o que imagino, talvez tudo isso ou talvez nada disso. Tais vezes, e tal. Escorregadio, descentrado, desarticulado, como o lampejo irrecuperável de uma memória vaga – um pote vazio – e humanamente insustentável. Comodismo ou integridade? Não fico com nenhuma. Mas se tiver de ser uma coisa, que não seja um elogio, mas algo como um olhar entorpecido que responde a isso tudo com um bocejo e que se isenta de ambicionar a estupidez de morder o queijo na ratoeira das opiniões quando se tem na alma uma fome que não quis aprender a digerir pratos feitos. Em uma palavra: nada a declarar. |
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André Díspore Cancian
11/02/2005 |
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