Nunca sentimos, na vida real, a felicidade que acreditamos existir. Nossa crença nela é justificada pela fachada sorridente dos demais, assim como eles acreditam na nossa. Por isso é comum tantos viverem em função da felicidade alheia. Todos sempre sorrindo, todos sempre infelizes. Enganam-se e vivem uns pelos outros em nome de uma felicidade que ninguém sente. Como pensamos que a felicidade é a única coisa capaz de justificar a vida, tornamo-nos obcecados em ser úteis. Buscamos acreditar que os demais são felizes para que isso justifique nossas vidas miseráveis, ao menos como um meio para a imortal felicidade que de nós sempre se esconde. Por isso insistimos que a felicidade existe. Nunca confessaríamos o caráter universal da infelicidade, pois isso nos implodiria. A felicidade nunca está em nós, nem no outro, só no modo como pensamos o outro para justificar nossas vidas: um pretexto. Trata-se da projeção de nossas expectativas nos demais, e esse é o motivo pelo qual a felicidade sempre se encontra do lado de lá: pensamos que só os demais podem ser felizes como nós gostaríamos de ser. Sabendo disso, voltamo-nos aos demais, fazemo-los um favor qualquer, e eles nos sorriem uma prova de que a felicidade existe. Dela fazemos parte porque de nós veio o favor. Nossas mentiras, umas vez refletidas nos demais, tornam-se verdades: também a felicidade é regida pelo princípio da hipocrisia suficiente. Sentimo-nos miseráveis, nossas vidas não valem nada, e qual é a solução? Viver pelas dos demais, pois eles, pelo motivo que for, devem valer alguma coisa. Mas os demais pensam da mesma forma e, assim como nós, não valem nada para si mesmos. Sentem-se miseráveis, mas acreditam que nós sejamos felizes: o círculo se fecha. Se eles vivem para nós, e nós para eles, onde está a felicidade, o motivo pelo qual se vive? Está nessa miopia. Ai de nós, jumentos do sorrir! A solidão é insuportável à maioria dos indivíduos exatamente porque nos revela essa verdade. Revela que as mesmas ações que direcionamos aos demais, pensando que isso os torna felizes, quando direcionadas a nós mesmos, não nos trazem felicidade alguma. O círculo se rompe porque não conseguimos nos enganar sorrindo para nós próprios. A solidão cai sobre nossas cabeças como uma prova irrefutável de que ninguém é feliz. A felicidade é um mito e a sociedade é um teatro, então já deveríamos sabê-lo: a peça em exibição se chama sorria, idiota! |