Paraíso Niilista – O Vazio e o Nada se encontram


 
Seção Reflexões
 

felicidade no retrocesso

Passamos pela vida atabalhoados, ansiosos, sem saber o que buscamos, ou se o sabemos, dificilmente saberíamos responder por que sem gaguejar. Em nenhum instante paramos nosso fluxo existencial num flash presente e dizemos “isso é o que eu busco na vida” – isso é tudo que busco. No melhor dos casos essa felicidade presente é uma boa dose de hormônios bem calibrados fazendo o cérebro fazer você pensar “que beleza, huh?” Do futuro esperamos coisas imbecis como a existência conspirando para erigir nossos ideais ou o cessar da vontade na realização de algum sonho imaginado como importante, que será um marco divisor de águas do agora angustiado para um longo e próspero futuro cheio de coisas legais que nos tornarão felizes e que não sabemos explicar porque isso nunca aconteceu, apesar de insistirmos na crença de que um dia, inevitavelmente, acontecerá e será bom como um dia sabemos que saberemos. Impossibilidades óbvias que geram frustração. Nós precisamos viver com alguma sensação de dignidade em nossos cérebros cheios de voltinhas especiais. Qual é o pulo do gato para burlar esse desencontro? Falsificamos a memória. Ninguém tem mais felicidade que no passado; o passado é onde imaginamos que toda a felicidade que fomos colhendo como migalhas durante nossas vidas fica armazenada, pronta para ser evocada e justificar mais alguma idiotice insípida e despropositada que futuramente será motivo de lembranças saudosas para satisfazer a cota da mentira para consigo mesmo e fazer valer uma existência aleijada per se. Na dúvida – ou sem dúvida – sempre ficamos com uma interpretação da memória, nunca com a memória crua dos fatos – nós os reinventamos, colorimos e recheamos com muitas coisas gordurosas. Fiz um teste. Quando tirei uma foto pensei – estou infeliz, estou numa situação de merda, só que sorrindo, mas vou me concentrar para me lembrar desses pensamentos ao vê-la revelada em vez de interpretá-la como sempre. Vendo a foto, lembro que pensei que estava infeliz... mas, no fundo, um fundo, qualquer fundo, estava feliz, não é? Pois é.
André Díspore Cancian
13/03/2006
 
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