A dúvida também é uma desculpa para manter vivas esperanças em coma. Depois de uma crença – e a esperança de que fosse real – ser empalada pelos fatos, espalmada pela evidência, escarnecida pelo bom-senso e abandonada, carente de lógica, na sarjeta dos enganos, não pensem que esta terá seu triste fim no esquecimento. Até a mais estúpida das idéias tem seu representante – há outra explicação para a existência de teólogos? Os lixeiros intelectuais se alimentam de qualquer coisa, não importa. Depois de digeridas essas idéias inócuas serão evacuadas em “considerações reflexivas”, precedidas por um flatulento “não é impossível que...” – quase sempre o prenúncio do vômito de alguma crença imbecil baseada na possibilidade de que nada é impossível. E essa esperança ainda quer fazer-se respeitar com esse discurso indecentemente pedante de que “não é possível negar a remota possibilidade hipotética”. Tudo bem, talvez a existência não seja completamente vazia e sem sentido – quem sabe tenha 10% de recheio de goiabada filosofal e aponte para a direita. Tenham dó. Se esse tipo crença tivesse alguma dignidade ela daria um tiro na cabeça; mas seu hospedeiro não permite, pois a bala poderia ferir seu orgulho. |