Até onde sabemos, a essência de todas as coisas é a sua própria existência. O ser, em si mesmo, não carrega qualquer razão, valor ou significado incrustado em seu âmago – portanto, tampouco nossas vidas. Fora dela própria, a vida não pode ser reconhecida como algo importante ou tampouco necessário. Estarmos aqui é fato puramente contingente, de modo que, se não estivermos olhando pela perspectiva humana – ou seja, despejando nossos juízos na realidade –, nada pode diferenciar uma pedra rolando montanha abaixo ou uma vida nascendo. Para o universo impessoal, externo a nós, à nossa realidade subjetiva, a vida não se distingue de um amontoado de átomos sem significado. Estarmos aqui, vivos e pensando, é algo totalmente vazio de qualquer significância objetiva. À parte isso, podemos fazer o que quisermos, decorar a existência com a roupagem que preferirmos. Podemos dizer que a vida é tudo; podemos dizer que a vida é nada; que é uma bênção com espinhos ou sem espinhos, que é uma maldição completa ou incompleta; podemos inventar regras para definir e julgar os seres; podemos importunar todos com teorias sobre como devemos nos comportar e no que devemos acreditar etc.; podemos gritar nossas opiniões ou permanecer calados. Nada disso despertará o interesse dos átomos; o mundo não procura nos imitar. Como humanos, o nonsense essencial consiste em acreditarmos naquilo que inventamos e fazer de conta que a realidade estava de férias quando decretamos a verdade absoluta. |